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domingo, 18 de janeiro de 2009

Pessoas têm medo de pessoas


É incrível como pessoas têm medo de pessoas. Agem como animais, pois de fato o são. Pensantes, como qualquer outro animal (embora alguns ingênuos pensem que macacos não pensam ao usar ferramentas de pedra para abrir cocos), mas reflexivos. Ainda que todo o conhecimento do mundo torne o homem mais sábio, mais esperto e, sendo assim, mais ignorante e imbecil que todos os outros seres (visto pela maneira como agimos ou destruímos o mundo), o homem age como animal, por instintos inatos. Ele nasce, vive e morre assim, por instintos. Repare numa situação cotidiana. Você está no ônibus pra casa com seu MP3 player (atualmente elevado de simples equipamento eletrônico ao status de um vital componente do sistema auditivo. O indispensável mp3, o apêndice auricular do pavilhão externo, mais importante inclusive que os três ossículos já conhecidos, os quais são totalmente dispensáveis). Você está ouvindo sua música preferida, o que faz com que se sinta a vontade para tocar aquela clássica air-bateria acompanhando o ritmo da melodia. Como diriam os jovens de hoje em dia, você está “mandando ver nos solos”. A essa altura existem algumas pessoas perto de você que já se sentiram ofendidas com sua introvertida apresentação musical. Aquela beata logo à frente, por exemplo, já se benzeu duas vezes, e senhor de terno cor caqui de tecido Oxford (mais conhecido como forno-auto-sustentável-ao-meio-dia) sentado no banco do lado de lá com certeza já pensou que você tem algum tipo de problema mental ou de coordenação motora. Você está só no meio da música e as pessoas já te odeiam tanto que você nem faz idéia. O cobrador aos sussurros já pediu ao motorista que parasse o ônibus duas vezes e disse que ganhava muito pouco pra ter que aturar uma hipocrisia dessas. Os que entram no ônibus automaticamente sentam o mais longe possível de você. Mas por incrível que pareça, não somente de você, e sim de todos os demais presentes no veículo. Isso mesmo, o problema não é com você. O de terno e a beata se odeiam tão reciprocamente, assim como sempre odiaram o cobrador, desde o dia em que nasceram, que por sua vez também os odeia amavelmente. É um fenômeno que poderíamos chamar de “circulo de auto-proteção contra infecção a partir de outros humanos”, ou “halo preventivo de perniciosidade humana”. É essencialmente simples e funciona da seguinte forma. Se existem dois humanos em um local, um terceiro ao se alojar no espaço disponível entre ambos o faz de modo a calcular a medida entre estes primeiros e estabelecer uma média entre os dois pontos, de modo que ao final ele ficaria o mais distante o possível de ambos. É como eu disse: humanos têm medo de humanos. Não é pelo simples fato de você ser diferente, ou tocar air-bateria, de maneira alguma. Não se sinta ofendido se o olharem diferente para você ou se afastarem, eles apenas têm medo. Eles consideram absurda a idéia de que você possa simplesmente perguntar, por exemplo, que horas são ou onde fica uma rua qualquer. No banco da lanchonete acontece a mesma coisa. Se já existe um humano sentado em um banco, o que chega em seguida sempre pulará pelo menos um banco para se sentar e quando não houver um disponível (a não ser é claro o que fica ao lado de outro humano) ele se sentirá incomodado ou não totalmente confortável durante todo o seu lanche. Medo, puro medo. Talvez resquícios da idade média, tempo em que o cumprimento padrão era o aperto de ante-braços e não de mãos como hoje em dia (nunca se sabia se aquele almocreve teria um punhal ou um zap escondido sob as mangas), mas isso é apenas uma suposição. A verdade é que uma herança ficou e as pessoas continuam tendo medo, naturalmente, medo de pessoas.

Sr. Pepper

Um comentário:

  1. Na verdade eu acho que o primeiro sentimento que as pessoas desenvolve pelas outras é o de desconfiança. E isso já vem de tempos muito mais remotos que a Idade Média.

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